Louvores aos Peixes e Críticas aos Homens
No Capítulo II, Vieira começa por louvar os peixes em geral, destacando qualidades que os humanos deveriam imitar. Os peixes foram os primeiros animais criados por Deus, são os mais numerosos, não se deixam domesticar e mostram-se obedientes e atentos.
Através destes elogios, Vieira critica indiretamente os homens por seus defeitos: deslumbramento pela adulação, altivez, violência, crueldade e vaidade. A comparação torna-se clara quando afirma que "os peixes irracionais se tinham convertido em homens e os homens não em peixes, mas em feras".
No Capítulo III, Vieira louva quatro tipos específicos de peixes, cada um representando virtudes cristãs:
O Peixe Tobias é elogiado por suas propriedades curativas - seu fígado expulsa demônios e sua bílis cura a cegueira. Tal como Santo António, ele cura e purifica, contrastando com os homens cegos pela ambição.
A pequena Rémora, capaz de parar grandes navios, simboliza o poder da palavra do pregador. Assim como este pequeno peixe altera o rumo de grandes naus, Santo António com suas palavras conseguia domar as paixões humanas, salvando as "naus" da soberba, vingança, cobiça e sensualidade.
O Torpedo, com sua capacidade de produzir choques elétricos, representa a palavra divina que deveria abalar as consciências. Como Santo António, desperta e ilumina os homens, fazendo-os tremer e arrepender-se.
O Quatro-olhos, com seus olhos voltados para cima e para baixo, simboliza a prudência e a sabedoria, a capacidade de ver tanto o céu quanto o inferno, virtude que falta a muitos homens que vivem cegos no pecado.
Reflexão: Observe como cada peixe representa não apenas uma virtude, mas também serve como instrumento para Vieira criticar vícios específicos da sociedade colonial.