Crítica Social e Técnicas Retóricas
No centro do sermão está uma profunda preocupação social. Vieira combate abertamente o despotismo dos colonos, defende os indígenas espoliados, e denuncia as injustiças sociais. Os sentimentos que atravessam o texto são intensos: indignação, revolta, repulsão e tristeza perante a situação dos mais fracos.
A antropofagia social - a exploração do homem pelo homem - é o tema central do sermão. Vieira analisa a realidade a partir dos grupos marginais, mostrando como a ambição e o egoísmo humanos geram autodestruição. Através da alegoria dos peixes, consegue representar vividamente os vícios humanos e censurar o mal na sociedade colonial.
O texto é rico em marcas discursivas que o tornam persuasivo e envolvente. Vieira utiliza três estratégias fundamentais: ensinar (docere), agradar (delectare) e persuadir (movere). Todo o sermão funciona como uma extensa alegoria, onde os peixes simbolizam virtudes e vícios humanos.
Para dinamizar o discurso, Vieira recorre frequentemente a perguntas retóricas, apóstrofes (interpelando diretamente os ouvintes), verbos no imperativo ("Vede"), e construções paralelas. A linguagem é extremamente polissémica - palavras como "comer" e "pescar" são usadas tanto no sentido literal quanto figurado.
💡 O sermão termina com uma conclusão poderosa (peroração), onde Vieira "consola" os peixes pela sua exclusão dos sacrifícios bíblicos e, humildemente, compara-se a eles reconhecendo-se também como pecador.
Esta obra-prima da oratória barroca portuguesa mostra como a religião podia servir de instrumento para a crítica social, usando a palavra como arma contra as injustiças do seu tempo.