O Polvo: O Grande Traidor
O polvo emerge como a personificação da dissimulação e da traição. Este animal é caracterizado pela sua capacidade de se camuflar conforme o ambiente: "Se está nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco". Esta habilidade, que em outros animais poderia ser admirável, no polvo é vista como manifestação de malícia.
Vieira compara-o com figuras como o camaleão e Proteu, mas afirma que o polvo é pior, pois o que neles é "gala" ou "fábula", no polvo é "malícia", "verdade e artifício". Chega a considerá-lo mais traidor que Judas, explicando que "Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; O Polvo é o que abraça e mais o que prende".
O contraste estabelecido com a água é particularmente significativo. A água, elemento puro, transparente e cristalino, abriga este "monstro dissimulado", criando uma oposição que realça ainda mais a natureza enganosa do polvo. Este contraste simboliza como a sociedade aparentemente virtuosa esconde hipócritas e traidores.
💡 Vieira sugere que antigamente ser português significava ser honrado e verdadeiro, mas essa virtude nacional deteriorou-se tanto que agora apenas nos santos como António se pode encontrar genuína integridade.