As Virtudes Naturais dos Peixes
Vieira continua a desenvolver sua alegoria, agora citando Aristóteles para reforçar sua argumentação sobre a virtude fundamental dos peixes: a liberdade e indomesticabilidade.
"Falando dos peixes, Aristóteles diz que só eles entre todos os animais se não domam nem domesticam." Esta característica é valorizada porque os peixes vivem afastados dos homens, em retiro, de forma inteligente e sensata: "Peixes, quanto mais longe dos homens, tanto melhor..."
O pregador estabelece um contraste detalhado entre os animais domesticados e os peixes, dividindo-os em categorias:
Animais terrestres domesticados: o cão (doméstico), o cavalo (sujeito), o boi (serviçal), o macaco (lisonjeiro) e até os leões e tigres.
Aves domesticadas: o papagaio (fala), o rouxinol (canta), o açor (ajuda na caça) e outras aves de rapina.
Peixes: vivem livres em seus mares, rios, pegos e grutas, longe da influência corruptora dos homens.
📝 Nota importante: Este contraste não é casual. Quando os colonos liam os índios como "selvagens que precisavam ser domesticados", Vieira invertia a lógica: a verdadeira virtude estaria justamente na liberdade natural, não na submissão ao colonizador.