Farsa de Inês Pereira, Gil Vicente
A Farsa de Inês Pereira é uma das obras mais conhecidas de Gil Vicente. Esta comédia popular retrata a história de uma jovem solteira que sonha com um casamento ideal, rejeitando a visão prática defendida pela sua mãe e por Leonor Vaz.
A protagonista, Inês Pereira, está cansada dos serviços domésticos e sonha casar com um homem alegre, bem-humorado, galante, que goste de dançar e cantar. Esta visão contrasta com a da sua mãe, que valoriza mais a estabilidade financeira que um marido possa proporcionar.
Quando Leonor Vaz lhe apresenta Pero Marques, um camponês abastado mas simplório e desajeitado, Inês rejeita-o imediatamente. Prefere aceitar a proposta de dois judeus casamenteiros, Latão e Vidal, que lhe apresentam Brás da Mata, um escudeiro que aparenta ser tudo o que ela deseja.
Após o casamento, Brás revela-se um tirano. Proíbe Inês de tudo, inclusive de olhar pela janela ou cantar dentro de casa. A sorte de Inês muda quando Brás parte para a guerra como cavaleiro, onde morre de forma covarde.
Viúva e mais experiente, Inês decide casar-se com Pero Marques, seu antigo pretendente. Aproveitando-se da ingenuidade do novo marido, trai-o com um ermitão, seu antigo apaixonado. Chega ao extremo de fazer com que Pero a carregue nas costas até ao local do encontro com o amante.
💡 O desfecho da peça ilustra o ditado popular "mais vale asno que me leve do que cavalo que me derrube", revelando como Inês aprendeu a manipular as situações a seu favor.
Os recursos expressivos mais recorrentes nesta obra são a ironia, a comparação, a interrogação retórica e a metáfora, que contribuem para o tom cómico e satírico da farsa.