Fernando Pessoa e Alberto Caeiro: Tensões Poéticas
Fernando Pessoa ortónimo caracteriza-se pela tensão entre sinceridade e fingimento, onde o pensar difere do sentir. A sua poesia recusa o puramente sentimental, transformando a criação poética num processo de intelectualização onde o poema surge como produto da imaginação.
A dicotomia sentir/pensar é central na sua obra. Pessoa expressa a "dor de pensar" e revela uma permanente intelectualização, manifestando inveja pela inconsciência, como se vê em poemas como "Gato que brincas na rua" e "A Ceifeira". Já Alberto Caeiro apresenta-se como o oposto, acreditando apenas no que vê e recusando o pensamento em favor da perceção direta da realidade.
Em Pessoa, o sonho funciona como refúgio da realidade disfórica, enquanto a realidade é marcada pela angústia existencial, introspecção e fragmentação interior. O poeta sofre com o tédio e desalento, realizando constantes autoanálises que revelam uma estranheza e desconhecimento do "eu", como se vê em "Às vezes em sonho triste".
💡 A nostalgia da infância é um tema recorrente em Pessoa ortónimo, representando um tempo perdido de pureza, inocência e felicidade. Este contraste entre presente e passado cria uma saudade intelectualmente trabalhada.
A linguagem e estilo do ortónimo caracterizam-se pela regularidade estrófica e métrica, vocabulário simples e exploração de figuras de estilo como comparações e metáforas. Predominam quadras ou quintilhas, versos curtos (frequentemente redondilhas) e estruturas com repetições e paralelismos que reforçam a musicalidade da sua poesia.