Cantigas de Escárnio
As cantigas de escárnio representam o lado satírico da poesia trovadoresca. Com um tom irónico e indireto, estas composições criticam comportamentos sociais, vícios, figuras públicas ou rivais, mas sem nomear diretamente o alvo da crítica.
O estilo destas cantigas é marcado pela ambiguidade e subtileza, utilizando trocadilhos e duplos sentidos para ridicularizar alguém. A crítica é disfarçada, exigindo astúcia do leitor/ouvinte para perceber quem é o verdadeiro alvo da sátira.
O conteúdo típico envolve ataques a vícios como a cobiça, hipocrisia, corrupção ou infidelidade. Através de alusões indiretas, o trovador expõe comportamentos reprováveis, muitas vezes de pessoas poderosas, utilizando a inteligência e elegância da linguagem como proteção contra possíveis represálias.
Um exemplo clássico é a cantiga "Ai dona fea", de João Garcia de Guilhade, que responde com sarcasmo a uma mulher que reclamou por não ter sido elogiada nas suas composições. Quando diz "mais eu hei-vos já por én bem dizer", o trovador finge elogiá-la enquanto na realidade a ridiculariza.
Importante! A diferença entre escárnio e maldizer está na forma: o escárnio utiliza linguagem refinada e crítica indireta, enquanto o maldizer é direto e vulgar.