A influência provençal nas cantigas de amor
As cantigas de amor desenvolveram-se sob a influência dos poemas e temas da Provença (França), adaptando-se às formas poéticas já existentes na Península Ibérica.
Nestas cantigas, o amor assume contornos mais artificiais e convencionais. O poeta (homem) coloca-se ao serviço de uma mulher, geralmente casada, numa relação que reproduz a vassalagem da sociedade feudal. Esta dama é tratada por "senhor" (no masculino) e mantém-se distante e inacessível.
O trovador louva as características físicas e morais da sua amada, sempre sem a nomear diretamente (por discrição), e submete-se totalmente a ela. Este código de conduta, conhecido como amor cortês, confere às cantigas um tom artificial, distante da espontaneidade das cantigas de amigo.
O sofrimento amoroso (a coita) é central nestas composições, expressando-se através de emoções como a dor, a angústia, o desespero e, no limite, a loucura ou a morte.
💡 A adaptação da poesia provençal (cansó) às formas locais resultou num estilo híbrido: mantém-se o código do amor cortês, mas utilizam-se estruturas como o refrão e uma expressão mais direta dos sentimentos.
Na cantiga "Proençaes soen mui ben trobar", D. Dinis afirma a superioridade da sua coita de amor em relação aos trovadores provençais. É uma forma de o poeta se posicionar dentro da tradição trovadoresca, reivindicando autenticidade para o seu sofrimento amoroso, em oposição ao que considera ser o artificialismo dos provençais.