Ricardo Reis e Álvaro de Campos
Ricardo Reis representa o lado neoclássico de Pessoa. Como médico monárquico exilado, combina o estoicismo e epicurismo numa filosofia de vida marcada pela moderação e aceitação do destino. A sua poesia reflete esta postura através de odes formais, com métrica rigorosa e linguagem erudita.
A filosofia de Reis pode resumir-se na sua célebre frase: "Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo." Para ele, a felicidade está na aceitação serena da brevidade da vida e dos limites humanos, mantendo sempre uma distância contemplativa.
Álvaro de Campos é o heterónimo mais moderno e inquieto. Como engenheiro formado na Escócia, representa o homem urbano do século XX, dividido entre o fascínio pelo progresso tecnológico e uma profunda angústia existencial. A sua obra atravessa três fases distintas: a futurista (celebrando a máquina e a velocidade), a sensacionista e a decadentista (marcada pelo tédio e desilusão).
O estilo de Campos é intenso e por vezes caótico, usando versos livres, exclamações abundantes e uma linguagem que oscila entre o êxtase e o desespero. O poema "Tabacaria" ilustra bem o seu sentimento de desajuste: "Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."