Personagens e Espaços
Blimunda Sete-Luas, uma mulher de 19 anos, é caracterizada como sensual e inteligente. Ela possui poderes extraordinários, conseguindo ver o interior das pessoas e suas vontades, tal como sua mãe. Ao contrário de D. Maria Ana, Blimunda vive sem regras que a condicionem, representando a liberdade feminina. O seu amor com Baltasar é pleno e livre de culpas e compromissos sociais.
Blimunda simboliza o transcendente e a inquietação humana em relação a temas como a morte, o amor e a existência de Deus. Através da sua capacidade de visualizar a essência dos outros (ecovisão), ela transgride os códigos sociais e percebe a hipocrisia e a mentira ao seu redor.
O povo surge como personagem coletiva, caracterizado pela rudeza, violência, mas também pela coragem e resiliência. O narrador enfatiza criticamente a escravidão a que foram submetidos quarenta mil portugueses para construir o convento, vivendo em condições deploráveis. O povo é apresentado como o verdadeiro herói coletivo da obra.
🔍 A relação entre Blimunda e Baltasar representa um contraponto aos valores da época: enquanto a sociedade se baseia em convenções e aparências, eles constroem uma relação baseada no amor autêntico e na liberdade.
Os espaços da narrativa são significativos: o Terreiro do Paço e o Rossio em Lisboa, São Sebastião da Pedreira (associado à passarola do padre Bartolomeu) e Mafra, onde o convento transforma a antiga vila. A construção do convento altera não apenas a paisagem física, mas também o espaço social, simbolizando o poder opressivo da monarquia sobre o povo.