Crónica de D. João I de Fernão Lopes
A Crónica de D. João I situa-se no contexto da Crise de 1383-1385, um período crítico na história portuguesa. Após a morte de D. Fernando, Portugal enfrentou uma crise dinástica que ameaçou a independência nacional frente a Castela.
Fernão Lopes narra episódios cruciais como o assassínio do Conde Andeiro pelo Mestre de Avis (6 de dezembro de 1383), a aclamação do Mestre como Regedor e Defensor do Reino, o cerco de Lisboa (25 de maio a 9 de setembro de 1384), até à Batalha de Aljubarrota (14 de agosto de 1385), quando Portugal garantiu a sua independência.
Nos capítulos estudados, vemos diferentes momentos deste processo histórico. No capítulo 11, o narrador mostra a reação do povo ao rumor da morte do Mestre, reunindo-se em armas e demonstrando apoio a D. João. O capítulo 115 retrata a preparação da defesa de Lisboa contra o cerco castelhano, com toda a população participando ativamente, incluindo mulheres, num esforço coletivo patriótico.
O capítulo 148 descreve vividamente as condições de vida durante o cerco: a falta de mantimentos, a fome, as mortes, especialmente de crianças, e o aumento dos preços. O ambiente de miséria e tristeza é acompanhado por um forte apelo do cronista às gerações futuras.
Importante! O estilo de Fernão Lopes caracteriza-se pelo visualismo dinâmico, coloquialismo (interpelando diretamente o leitor), e pela recriação artística dos factos que aproxima a crónica da ficção.
Na obra, destacam-se atores individuais como D. Leonor Teles (a "traidora"), o Mestre de Avis (o herói defensor do reino) e Álvaro Pais (o estrategista político). Porém, o verdadeiro protagonista é o povo português, personagem coletiva que intervém decisivamente no rumo da História, mostrando uma consciência nacional que evoca a ideia de epopeia.