A Progressão Dramática nas Cenas Finais do Ato I
Nas cenas 5 a 8 do primeiro ato, a tensão dramática aumenta significativamente. Frei Jorge anuncia que os governadores em nome de Filipe II pretendem instalar-se na casa da família para escapar da peste que assola Lisboa. Esta notícia desencadeia a decisão crucial de Manuel de Sousa de abandonar o palácio.
As reações das personagens revelam suas naturezas: D. Madalena mostra-se assustada e supersticiosa, resistindo à mudança; Frei Jorge aparece como racional e prudente, mas demonstra preocupação pelo "ouvido apurado" de Maria, que considera um "terrível sinal"; e Manuel mostra-se determinado e patriota. No diálogo entre Manuel e Madalena, ela tenta sem sucesso demovê-lo de sua decisão, revelando seus medos profundos.
Nas cenas 9 a 12, o drama atinge um primeiro clímax com a notícia do desembarque dos governadores e os preparativos para o abandono da casa. O momento crucial ocorre quando Manuel de Sousa, em um ato de rebeldia patriótica, incendeia seu próprio palácio. Simbolicamente, seu retrato é consumido pelas chamas – presságio de seu próprio destino.
A família se vê forçada a mudar-se para o antigo palácio de D. João de Portugal, criando uma situação onde "mais do que o regresso ao passado, é o passado que regressa" – uma transição fundamental na estrutura dramática da obra.
Esta mudança espacial é carregada de simbolismo: do espaço luminoso, luxuoso e aberto do palácio de Manuel de Sousa para o espaço antigo, melancólico e fechado do palácio de D. João, marcado pelos retratos de D. Sebastião, Camões e do próprio D. João. A progressiva concentração do espaço acompanha a inexorabilidade do destino que se fecha sobre as personagens.
A concentração temporal também é significativa: os momentos decisivos da trama ocorrem sempre em sexta-feira, criando um padrão de fatalidade que culmina no regresso de D. João exatamente 21 anos após a Batalha de Alcácer Quibir.