Sonho, Realidade e a Nostalgia da Infância
A tensão entre sonho e realidade constitui outro tema fundamental na obra do ortónimo. O poeta usa o sonho como refúgio e mecanismo de evasão para escapar ao tédio existencial, ao desalento e à angústia que caracterizam a sua experiência do real.
A nostalgia da infância surge como um tema recorrente, representando um tempo idealizado de pureza, felicidade e unicidade intelectual. Pessoa expressa um profundo desencanto com o presente, contrastando-o com a memória idealizada da infância. Para ele, o tempo é um fator de desagregação que torna tudo breve e efémero.
O poeta deseja recuperar a inocência das crianças que brincam livremente, sentindo saudade de uma ternura que nunca experimentou plenamente. O passado é descrito como "um sonho inútil", que resultou apenas em desilusão e numa constante descrença perante a vida real.
💡 Para Pessoa, a verdadeira felicidade corresponde à ausência de racionalização – estado que só existe na infância ou no sonho.
Na sua busca por conforto, o sujeito poético cria locais idílicos que representam esse tempo perdido de inconsciência e inocência. A infância torna-se assim um símbolo de despreocupação e inocência, contrastando dramaticamente com a consciência aguda da passagem inexorável do tempo.