FERNANDO PESSOA - POESIA DO ORTÓNIMO
Fernando Pessoa (1888-1935) destacou-se como uma das vozes fundamentais do Modernismo português, movimento que trouxe uma nova visão da vida e da arte. Como membro da Geração de Órfeu, juntamente com Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros, revolucionou a literatura portuguesa.
A poesia ortónima de Pessoa (aquela que escreveu sob seu próprio nome) caracteriza-se por temas profundamente filosóficos. O fingimento artístico é central na sua obra, onde defende a intelectualização das emoções em vez da sinceridade espontânea. Pessoa considera que o poeta deve transformar as suas vivências em arte através da imaginação, rejeitando a emotividade direta.
Outro tema recorrente é a dor de pensar – o sofrimento causado pela consciência excessiva. Pessoa explora a dicotomia entre pensar e sentir, ansiando por vezes ser outro, mais inconsciente e, portanto, mais feliz. Os temas do sonho e realidade também são explorados, criando mundos onde estas dimensões se confundem e servem de evasão.
💡 Para Pessoa, a poesia não é apenas expressão pessoal, mas uma construção intelectual. Quando afirma "O poeta é um fingidor", não está a defender a mentira, mas sim a transformação artística da experiência.
A nostalgia da infância surge como um tema íntimo e recorrente, representando um paraíso perdido de inocência e felicidade. Pessoa evoca a saudade de um tempo em que a consciência não era ainda um fardo, embora este sentimento seja também uma construção artística.
Estilisticamente, a poesia ortónima de Pessoa caracteriza-se pela simplicidade formal que esconde grande complexidade de pensamento. Utiliza frequentemente formas tradicionais (quadras, quintilhas, redondilha), mantendo regularidade estrófica e métrica. A sua linguagem, aparentemente simples, é rica em símbolos e recursos expressivos como metáforas, antíteses e interrogações retóricas, criando uma musicalidade própria através de rimas e aliterações.