O Legado de Fernão Lopes
Fernão Lopes dedicou 20 anos da sua vida a registar e relatar a história de Portugal, como escrivão, historiador e guarda-mor da Torre do Tombo. Embora muitas das suas crónicas se tenham perdido, sobreviveram as de D. Pedro, D. Fernando e D. João I, obras fundamentais para conhecermos a história medieval portuguesa.
O cronista procurou sempre relatar os acontecimentos com objetividade e veracidade, cruzando informações de várias fontes. No entanto, o seu estilo vai muito além do simples registo factual — ele confere aos eventos uma vivacidade e um dinamismo únicos, utilizando verbos de ação, alternando narração, descrição e diálogo.
Na "Crónica de D. João I", destaca-se a presença do povo como ator coletivo, unido pela mesma causa. O capítulo XI é exemplar no uso do dinamismo e do sensorialismo, com expressões como "Ali eram ouvidos braados de desvairadas maneiras" e "Uas viinham com feixes de lenha, outras tragiam carqueija para acender o fogo", que nos transportam diretamente para a cena.
📚 Embora tenha buscado a objetividade histórica, Fernão Lopes não escondeu a sua sensibilidade ao relatar emocionalmente acontecimentos como o cerco de Lisboa. É esta combinação de rigor histórico com qualidade literária que faz dele o maior cronista medieval português e uma referência incontornável da nossa literatura.