Comparação das Cantigas de Escárnio e Maldizer
Analisando estas três cantigas, percebemos a rica diversidade da sátira medieval portuguesa. "Ai dona fea" e "Foi um dia lopo jugrar" são exemplos clássicos de cantigas de escárnio, usando ironia, ambiguidade e duplo sentido para provocar o riso. Já "Don Denis, per mal vos semelha" representa a cantiga de maldizer, com seu ataque frontal e linguagem explicitamente ofensiva.
As cantigas de escárnio jogam com as expectativas e convidam o público a decifrar significados ocultos, criando uma forma de humor inteligente e sofisticada. As de maldizer, por outro lado, apostam no choque, no escândalo e na exposição direta, sem qualquer pretensão de sutileza.
Todas compartilham, no entanto, o uso da poesia como veículo de crítica social e pessoal. Servem não apenas para entreter, mas também para expor comportamentos considerados inadequados, criticar figuras sociais e, em alguns casos, até mesmo para destruir reputações.
Estas cantigas revelam como a literatura medieval portuguesa, longe de ser apenas solene ou religiosa, tinha também seu lado irreverente, ousado e provocador, refletindo as tensões e contradições da sociedade da época.
Reflexão: Perceba como a sátira medieval, apesar dos séculos que nos separam, ainda provoca reações e utiliza técnicas que reconhecemos na comédia contemporânea.