Forma e Expressividade em "Ai flores"
Esta cantiga distingue-se pela sua forma dialogada, criando tensão entre pergunta e resposta. Com estrutura paralelística perfeita, organiza-se em oito estrofes de três versos (dístico decassílabo e refrão pentassílabo), com rima emparelhada que alterna entre consoante, toante, rica e pobre.
O ritmo binário e suave evoca o movimento do pinheiro ao vento e a cadência da espera. O refrão interrogativo ("se sabedes novas do meu amigo?") traduz magistralmente a inquietação e persistência do sentimento amoroso.
Os recursos poéticos são abundantes aliterações em "se sabedes novas" refletem musicalidade e ansiedade; assonâncias em "á" e "i" reforçam a melodia emotiva; o travessão marca a divisão entre a fala da donzela e a resposta das flores; e a personificação das flores, que ganham voz e papel consolador, é central para o efeito do poema.
No plano semântico, observamos como a donzela projeta nas flores seus medos, esperanças e dúvidas. A ausência do amigo é o eixo de toda a emoção, e embora a resposta da natureza ofereça consolo, a repetição do refrão sugere que a inquietação da donzela permanece.
Esta cantiga de amigo dialogada destaca-se pela delicadeza com que expressa saudade, ansiedade e amor juvenil, usando a natureza como interlocutora do sentimento amoroso.