Cesário Verde: A Cidade e os Tipos Sociais
Cesário Verde revolucionou a poesia portuguesa com o seu olhar único sobre a cidade e a sociedade. Na sua representação da cidade, Lisboa surge como um espaço de contrastes profundos: lugar de multidões, com casas apalaçadas e bairros insalubres.
A cidade moderna para Cesário é simultaneamente um local de atração e repulsa, um espaço opressivo e confinador, oposto ao campo (que simboliza vitalidade e energia). Apresenta-nos uma Lisboa industrializada, com locais de convívio social e hábitos culturais, mas também palco de degradação social e injustiças.
Na sua representação dos tipos sociais, o poeta divide a sociedade em três grandes grupos:
- O povo/classes trabalhadoras (calafates, varinas, obreiras): símbolos de produtividade e autenticidade, que merecem a simpatia e solidariedade do poeta
- A burguesia (dentistas, lojistas): símbolo da ociosidade e artificialidade, alvo de crítica e ironia
- Os marginais (ladrões, bêbedos, prostitutas): representantes da degradação social e moral
A deambulação é uma característica fundamental da poesia de Cesário Verde. O poeta vagueia pelas ruas da cidade sem roteiro definido, elegendo para si o papel de observador acidental do que o rodeia. Esta deambulação é marcada por verbos como "sair", "errar", "seguir", usados na primeira pessoa.
🔍 Cesário Verde assemelha-se a um pintor ou fotógrafo, criando "instantâneos quase cinematográficos" da realidade urbana. Parte do trivial e, através da memória e dos sentidos, transfigura-o em algo surpreendente e poético.
A sua poesia caracteriza-se pela perceção sensorial (captação impressionista da realidade) e pela transfiguração poética do real (criação de uma nova realidade, a partir de elementos reais).