Os Recursos Marítimos e a Litoralização

Portugal possui uma impressionante linha de costa com cerca de 2601 km, distribuída entre o continente (48%), a Região Autónoma dos Açores (36%) e a Região Autónoma da Madeira (16%). Esta extensa faixa costeira tem sido historicamente crucial para o país.

Desde cedo, as populações portuguesas orientaram-se para o litoral, concentrando ali as suas atividades económicas e estabelecendo importantes núcleos populacionais. Este fenómeno é conhecido como litoralização - um processo contínuo de progressiva concentração populacional e económica ao longo da faixa litoral.

💡 A litoralização não é apenas um fenómeno histórico, mas um processo que continua a ocorrer nos dias de hoje, contribuindo para os desequilíbrios na distribuição da população entre o litoral e o interior.

A importância da costa não se limita apenas à pesca, mas estende-se a diversos setores como a aquacultura, extração de sal, turismo e atividades recreativas que contribuem significativamente para a economia portuguesa.

Conceitos Fundamentais do Litoral

Quando estudamos a geografia costeira, é importante distinguir dois conceitos essenciais. A linha de costa refere-se à faixa de superfície terrestre que estabelece contacto direto entre a terra e o mar. Já o litoral é uma área mais ampla, englobando até 50 quilómetros para o interior, onde terra e mar interagem.

A configuração da linha de costa portuguesa resulta da interação de diversos fatores naturais. A ação do mar é um dos principais, através dos processos erosivos e de deposição causados pelas ondas, marés e correntes marítimas.

O processo de deposição consiste na acumulação de material mineral ou orgânico transportado pela água, vento ou gelo - o que chamamos de processo sedimentar. Outro fator determinante é o grau de resistência das rochas à erosão marinha.

Rochas como granito, xisto e calcário apresentam maior resistência à erosão do que rochas sedimentares como areias, arenitos e argilas, o que contribui para as diferentes formas que encontramos ao longo da costa portuguesa.

Processos Geológicos na Costa

A costa portuguesa é constantemente moldada por processos de meteorização, tanto químicos como físicos. A meteorização química altera a composição da rocha através da ação da água e substâncias dissolvidas, destruindo certos minerais e formando outros. Já a meteorização física provoca a degradação dos corpos geológicos pela ação direta dos agentes atmosféricos.

As variações no nível do mar também provocam alterações significativas na costa portuguesa. Quando o nível do mar sobe em relação ao continente, ocorre uma transgressão marinha, criando uma costa de submersão onde o mar avança sobre a terra. No processo contrário, a regressão marinha resulta numa costa de emersão, com o recuo do nível médio das águas.

🌊 As alterações climáticas atuais podem acelerar processos de transgressão marinha, aumentando o risco para zonas costeiras habitadas em Portugal.

A dinâmica do interior da Terra também influencia a costa através de erupções vulcânicas, movimentos tectónicos e sismos, que podem provocar a elevação ou afundamento de áreas costeiras, alterando permanentemente sua configuração.

Fatores de Transformação da Costa

A ação antrópica (humana) tem um papel cada vez mais importante na modificação da linha de costa. Construções como barragens e portos, a extração de areia, a urbanização costeira e construções em zonas dunares alteram significativamente a dinâmica natural do litoral português.

Os rios também são agentes fundamentais na configuração costeira, transportando sedimentos para o litoral e contribuindo para a formação de deltas e praias. Este transporte de materiais ajuda a equilibrar naturalmente as zonas costeiras.

A ação erosiva do mar divide-se em dois processos principais. A erosão mecânica ou abrasão marinha resulta do desgaste das rochas por fricção, causada pelas ondas que transportam fragmentos rochosos. Por outro lado, a erosão química provoca o desgaste através de alterações ou decomposição química dos minerais que constituem as rochas.

Estes processos erosivos atuam de forma contínua e são influenciados por fatores como correntes marítimas, ondulação, tipo de rocha e marés, transformando constantemente o perfil da nossa costa.

Tipos de Costa em Portugal

Em Portugal podemos distinguir três tipos principais de costa, cada um com características próprias e formados por diferentes processos geológicos.

A costa alta de arriba caracteriza-se por altitudes elevadas acima do nível médio do mar. Geralmente é escarpada devido à erosão provocada pelas ondas e apresenta um elevado nível de dureza graças aos afloramentos rochosos como granito, xisto e calcário. As falésias (arribas) são visíveis principalmente durante a maré baixa e frequentemente têm pequenas extensões de areia na sua base.

A costa baixa e arenosa apresenta altitudes próximas do nível do mar e é constituída predominantemente por areia. Está geralmente associada a sistemas dunares e é formada por rochas sedimentares pouco resistentes. Neste tipo de costa, predomina a ação de acumulação de sedimentos em vez da erosão.

🏖️ As praias arenosas que tanto atraem turistas são um exemplo de costa baixa e arenosa, formadas pela acumulação de sedimentos transportados pelas correntes marítimas.

A costa baixa e rochosa também tem altitudes próximas do nível do mar, mas apresenta formações rochosas expostas, como podemos observar em locais como a Póvoa do Varzim.

Evolução das Arribas

As arribas, ou falésias, passam por um processo evolutivo fascinante que podemos dividir em três etapas principais.

Na primeira fase, o mar ataca continuamente a base da arriba através de erosão química e mecânica, escavando a rocha e formando grutas. Esta erosão constante na parte inferior cria um desequilíbrio na estrutura da arriba.

Na segunda etapa, como consequência desse desgaste, a parte superior da arriba fica sem suporte adequado e acaba por desmoronar. Simultaneamente, na base forma-se uma plataforma de abrasão - uma superfície plana criada pela ação combinada do impacto direto das ondas e do movimento de areias transportadas pelo mar, que têm um poderoso efeito abrasivo.

Na fase final, o mar já não consegue atingir a base da arriba, que se torna uma arriba fóssil ou morta. Neste estado, a arriba já não sofre o efeito direto da abrasão marinha, sendo modelada apenas por outros agentes de erosão, como a chuva e o vento.

Este ciclo natural de formação e transformação das arribas tem ocorrido ao longo de milhões de anos, moldando a espetacular costa portuguesa que conhecemos hoje.