Farsa de Inês Pereira - Gil Vicente
Gil Vicente, considerado o pai do teatro português, viveu cerca de 35 anos na corte portuguesa durante o século XVI. Sua obra reflete o período dos Descobrimentos, quando a sociedade portuguesa experimentava riqueza e ostentação, mas também degradação dos valores morais.
A Farsa de Inês Pereira é uma sátira às mudanças deste período, marcado pelo luxo desmedido, ostentação, corrupção e profanismo. A dimensão satírica da obra manifesta-se através do cómico de linguagem, cómico de carácter e cómico de situação.
A obra representa o quotidiano da época, abordando temas como o estatuto da mulher, a vida doméstica, o casamento como negócio e a vida do clero. A personagem principal, Inês Pereira, é dinâmica, alterando seu comportamento ao longo da peça:
- Antes do casamento: idealista, preguiçosa e fantasiosa
- Após o casamento com o Escudeiro: materialista e vingativa
- No segundo casamento com Pêro Marques: manipuladora e adúltera
💡 Esta farsa vicentina mostra como o teatro pode ser uma poderosa ferramenta de crítica social, revelando os vícios e contradições de uma sociedade em transformação.
Outras personagens importantes incluem a Mãe de Inês (voz do senso comum), Brás da Mata (elegante mas mentiroso e autoritário), Pêro Marques (ingénuo e honesto) e o Ermitão (falso religioso e amante de Inês).